E assim o mês de outubro passou cheio de fitinhas rosas por aí. Como nos anos anteriores, foi o mês de conscientização sobre o câncer de mama. Vez ou outra ouço a palavra 'prevenção', que não me soa bem, uma vez que não é possível prevenir totalmente que o câncer surja, mas é sempre bom ajudar na conscientização para que, se surgir, não avance.
Pensando nisso, resolvi escrever
um pouco mais sobre o assunto, comparando minhas visões de antes e depois de ter
tido câncer. Não deve ser uma fonte de referência sobre o tema, até porque não
sou especialista e estou com preguiça de copiar informações do Google, e
sim um partilha, o que já pode ser bastante útil.
Minha visão sobre o câncer de mama antes de vivenciá-lo: antes de ter câncer de mama, não entendia a necessidade de se dedicar um mês somente a ele, se existem tantos tipos de câncer por aí. Achava que fosse um câncer bonzinho, já que ninguém respira pela mama, pensa pela mama, faz digestão ou se movimenta pela mama. Pensava que o tratamento
fosse quimioterapia, cirurgia e radioterapia, somente, e que o corte da cirurgia tinha tamanho suficiente para remover o tumor e pronto: Livre estou!
Livre estou! Não fazia ideia de como era a radioterapia e nem sabia que existia
hormonioterapia. Não conhecia a relação câncer de mama x gravidez ou a relação câncer de mama x braço.
Minha visão sobre o câncer hoje em dia: Existem vários tipos de
câncer de mama e tratamentos diferentes para cada um deles . Ainda que duas
pessoas tenham o mesmo tipo de câncer de mama, eles se comportam de maneiras distintas. O câncer
de mama, se não tratado, pode espalhar pelo corpo. Se tratado também pode,
porém com menos chances. Começa atingindo os linfonodos e depois se espalham
para outras partes do corpo como ossos, fígado, cabeça, o que chamamos de metástase. É de longe o mais comum entre as mulheres, e o que mais mata também, por isso a importância de se dedicar um mês inteiro a ele. De bonzinho ele não tem nada, é extremamente agressivo, infelizmente
vi pessoas morrendo após lutarem bastante. Igualmente agressivo é o tratamento,
dependendo do grau em que o câncer se encontra. Quanto mais cedo é descoberto,
menos agressivo é o tratamento e maior é a chance de cura. O tipo de cirurgia
varia de acordo com o tamanho do tumor, sua quantidade, localização e outros.
Com minhas andanças e conversas com mulheres por aí, só conheci uma que teve um
corte de tamanho suficiente para remover o tumor, a maioria passou
pela quadrantectomia, quando é retirado um quadrante da mama, que pode incluir
os mamilos, ou mastectomia definitiva, quando a mama é removida totalmente,
tipo o da personagem da Sônia Braga em Aquárius (Spoiller!). Além da mama, pode
ocorrer a dissecção dos linfonodos da axila, caso os mesmos tenham sido acometidos.
Essa dissecção pode ser parcial ou total. No caso da dissecção total, para
evitar o linfedema, a mulher terá que tomar cuidado com o braço, mãos e dedos
do lado operado, para o resto da vida. Nunca mais ela poderá medir a pressão,
tirar sangue, e terá que evitar cortes, picadas de insetos e até mesmo tirar
cutícula. As atividades também ficarão limitadas para sempre, pois não é
recomendável pegar peso, nem fazer esforço repetitivo com o braço. Fui operada
no dia 27 de julho, hoje são 28 de outubro e o meu braço ainda não levanta,
está dolorido, dormente e bastante fraco, mesmo fazendo fisioterapia. O
tratamento varia muito, quando o câncer é descoberto no início, às vezes a
pessoa nem precisa passar por quimioterapia, faz uma pequena cirurgia e poucas
sessões de radioterapia, por exemplo. Como eu disse acima, quanto mais cedo
descoberto, melhor! Como eu disse também, o tratamento varia de acordo com
vários fatores. No meu caso, passei por quimioterapia, cirurgia, estou fazendo
radioterapia e hormonioterapia. A quimioterapia é um tratamento que mexe muito com o organismo, parei de menstruar na segunda sessão da mesma e sinto todos os sintomas da menopausa. Ainda que a menstruação volte, não é aconselhável que eu engravide nos próximos 10 anos, primeiro porque estou tomando tamoxifeno, segundo pela descarga hormonal no organismo. Durante a quimio, perdi o paladar e a sensibilidade dos dedos das mãos e dos pés. O paladar retornou rapidinho, a sensibilidade dos dedos ainda não. Em relação a radioterapia, assim como outros tratamentos, a quantidade de
sessões varia de uma pessoa para outra. Conheci pessoas que
fizeram 9, 12 ou 20 sessões, como o meu câncer já estava avançado e sou
relativamente nova, fiz 29. Como efeitos colaterais da radioterapia, algumas mulheres
ficam com queimaduras, a região da mama escurecida, sentem cansaço e dores no
corpo. A hormonioterapia é feita com o citrato de
tamoxifeno, o qual deve ser tomado todos os dias, durante 10 anos. Caso entre na menopausa nesse
período, o tamoxifeno é substituído pelo anastrozol. A mulher que ja teve câncer de mama deve cuidar mais ainda da alimentação e fazer atividades físicas, pois o aumento da gordura aumenta a quantidade de hormônios no organismo, o que aumenta o risco de ter um novo câncer.