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sexta-feira, 28 de outubro de 2016

OUTUBRO ROSA - Minha visão sobre câncer de mama antes e depois da experiência.



E assim o mês de outubro passou cheio de fitinhas rosas por aí. Como nos anos anteriores, foi o mês de conscientização sobre o câncer de mama. Vez ou outra ouço a palavra 'prevenção', que não me soa bem, uma vez que não é possível prevenir totalmente que o câncer surja, mas é sempre bom ajudar na conscientização para que, se surgir, não avance.

Pensando nisso, resolvi escrever um pouco mais sobre o assunto, comparando minhas visões de antes e depois de ter tido câncer. Não deve ser uma fonte de referência sobre o tema, até porque não sou especialista e estou com preguiça de copiar informações do Google, e sim um partilha, o que já pode ser bastante útil.

Minha visão sobre o câncer de mama antes de vivenciá-lo: antes de ter câncer de mama, não entendia a necessidade de se dedicar um mês somente a ele, se existem tantos tipos de câncer por aí. Achava que fosse um câncer bonzinho, já que ninguém respira pela mama, pensa pela mama, faz digestão ou se movimenta pela mama. Pensava que o tratamento fosse quimioterapia, cirurgia e radioterapia, somente, e que o corte da cirurgia tinha  tamanho suficiente para remover o tumor e pronto: Livre estou! Livre estou! Não fazia ideia de como era a radioterapia e nem sabia que existia hormonioterapia. Não conhecia a relação câncer de mama x gravidez ou a relação câncer de mama x braço.

Minha visão sobre o câncer hoje em dia: Existem vários tipos de câncer de mama e tratamentos diferentes para cada um deles . Ainda que duas pessoas tenham o mesmo tipo de câncer de mama, eles se comportam de maneiras distintas. O câncer de mama, se não tratado, pode espalhar pelo corpo. Se tratado também pode, porém com menos chances. Começa atingindo os linfonodos e depois se espalham para outras partes do corpo como ossos, fígado, cabeça, o que chamamos de metástase. É de longe o mais comum entre as mulheres, e o que mais mata também, por isso a importância de se dedicar um mês inteiro a ele. De bonzinho ele não tem nada, é extremamente agressivo, infelizmente vi pessoas morrendo após lutarem bastante. Igualmente agressivo é o tratamento, dependendo do grau em que o câncer se encontra. Quanto mais cedo é descoberto, menos agressivo é o tratamento e maior é a chance de cura. O tipo de cirurgia varia de acordo com o tamanho do tumor, sua quantidade, localização e outros. Com minhas andanças e conversas com mulheres por aí, só conheci uma que teve um corte de tamanho suficiente para remover o tumor, a maioria passou pela quadrantectomia, quando é retirado um quadrante da mama, que pode incluir os mamilos, ou mastectomia definitiva, quando a mama é removida totalmente, tipo o da personagem da Sônia Braga em Aquárius (Spoiller!). Além da mama, pode ocorrer a dissecção dos linfonodos da axila, caso os mesmos tenham sido acometidos. Essa dissecção pode ser parcial ou total. No caso da dissecção total, para evitar o linfedema, a mulher terá que tomar cuidado com o braço, mãos e dedos do lado operado, para o resto da vida. Nunca mais ela poderá medir a pressão, tirar sangue, e terá que evitar cortes, picadas de insetos e até mesmo tirar cutícula. As atividades também ficarão limitadas para sempre, pois não é recomendável pegar peso, nem fazer esforço repetitivo com o braço. Fui operada no dia 27 de julho, hoje são 28 de outubro e o meu braço ainda não levanta, está dolorido, dormente e bastante fraco, mesmo fazendo fisioterapia. O tratamento varia muito, quando o câncer é descoberto no início, às vezes a pessoa nem precisa passar por quimioterapia, faz uma pequena cirurgia e poucas sessões de radioterapia, por exemplo. Como eu disse acima, quanto mais cedo descoberto, melhor! Como eu disse também, o tratamento varia de acordo com vários fatores. No meu caso, passei por quimioterapia, cirurgia, estou fazendo radioterapia e hormonioterapia. A quimioterapia é um tratamento que mexe muito com o organismo, parei de menstruar na segunda sessão da mesma e sinto todos os sintomas da menopausa. Ainda que a menstruação volte, não é aconselhável que eu engravide nos próximos 10 anos, primeiro porque estou tomando tamoxifeno, segundo pela descarga hormonal no organismo. Durante a quimio, perdi o paladar e a sensibilidade dos dedos das mãos e dos pés. O paladar retornou rapidinho, a sensibilidade dos dedos ainda não. Em relação a radioterapia, assim como outros tratamentos, a quantidade de sessões varia de uma pessoa para outra. Conheci pessoas que fizeram 9, 12 ou 20 sessões, como o meu câncer já estava avançado e sou relativamente nova, fiz 29.  Como efeitos colaterais da radioterapia, algumas mulheres ficam com queimaduras, a região da mama escurecida, sentem cansaço e dores no corpo. A hormonioterapia é feita com o citrato de tamoxifeno, o qual deve ser tomado todos os dias, durante 10 anos. Caso entre na menopausa nesse período, o tamoxifeno é substituído pelo anastrozol. A mulher que ja teve câncer de mama deve cuidar mais ainda da alimentação e fazer atividades físicas, pois o aumento da gordura aumenta a quantidade de hormônios no organismo, o que aumenta o risco de ter um novo câncer.

ACABOUUUUU!!! Mas continua...

Na segunda-feira, dia 24 de outubro de 2016, foi minha última sessão de radioterapia. Ontem tive alta do médico e assim o tratamento acabou. Ehhhhh!!!.Porém, o tratamento de câncer de mama é igual BBB, um programa que não acaba quando termina (tosco, eu sei). Comecei a tomar o tamoxifeno em agosto e continuarei com ele por 10 anos se eontinuar viva até lá, e só então poderei dizer que estou curada.
A princípio voltarei no oncologista e mastologista a cada 3 meses, no primeiro ano; a cada 4 meses, no segundo ano, e assim vão me soltando aos poucos.
Fiz várias sessões de fisioterapia para a recuperação do movimento do braço, mas infelizmente perdi bastente mobilidade com a radioterapia, assim, continuarei de licença do trabalho, para uma fisioterapia mais intensa. Provavelmente terei que fazer drenagens também, pois meu braço inchou um pouco.
Ah, no post passado eu havia dito que sentia algumas dores... graças a Deus não eram nada sério, tudo se resolveu com um frasco de lactulona.

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Dores

Hoje acordei de madrugada com o coração disparado e sentindo algumas fincadas no tórax. Tenho sentido essas fincadas há algum tempo, no tórax e no abdome, às vezes nas costas também. À tarde vou mais cedo para a radioterapia, ver se tem algum médico de plantão. Acredito que seja reação comum ao tratamento, mas não custa nada olhar, né?

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Atualizações Parte 3 - Radioterapia

Comecei a radioterapia no dia 13 de setembro, há uma semana e pouquinho. Serão feitas 30 sessões. Até o momento não tenho sentido o cansaço que algumas pessoas disseram ter sentido, pelo contrário, bato perna o dia todo, saio com as amigas, enfim, vida normal. Apenas a minha pele está começando a ficar dura tanto na mama quanto nas axilas, mas minha fisioterapeuta ja está cuidando disso.

Atualizações Parte 2 - Cirurgia

Minha cirurgia ocorreu no dia 27 de julho, no Hospital da Mulher e Maternidade Santa Fé, em BH.
Foi realizada uma quadrantectomia da mama esquerda, com retirada do setor central da mama, inclusive mamilo, e esvaziamento da axila esquerda. Também foi retirado um fibroadenoma na mama direita.

Cheguei e saí do bloco bastante tranquila, confiei muito na minha médica, Dra Monica Pimentel. Precisei ficar um tempo com o dreno, menos tempo do que o previsto inicialmente, porque entrou ar e retirei antes da hora.

Hoje, dia 22 de setembro, ainda estou fazendo fisioterapia para recuperar a mobilidade do braço.

No intervalo entre a cirurgia e início da rádio, aproveitei para passear. Havia adquirido ingressos dos jogos Olímpicos e, com a liberação da minha médica, segui para o Rio de Janeiro 20 dias após ser operada. Esse passeio foi muito bom para que eu conseguisse me desligar um pouco do tratamento.


Atualizações Parte 1 - Quimioterapia



Terminei a quimioterapia no dia 20 de junho de 2016. Posso dizer que os sintomas mais comuns foram:

  • Na quimioterapia vermelha: enjoos, vomitos e cansaço. Todos intensos nos dias da aplicação e mais leves ou inexistentes dos demais dias.
  • Na quimioterapia branca: Sonolência no momento da aplicação; cansaço, que foi ficando mais intenso no final do tratamento; perda do paladar a ponto de não ter diferença entre comer um pedaço de bolo de chocolate e um enroladinho de salsicha e, claro, perda das veias. 
No final foi ficando bem dificil encontrar minhas veias. Eu morria de medo de precisar furar no pulso ou nos dedos, mas, graças a Deus, não foi preciso. Me arrependi de não ter usado o cateter e essa é uma dica que deixo para quem começará o tratamento.
Tive muito medo de engordar com a quimio, pois entrava na internet e só lia relatos de pessoas que engordaram 10 quilos durante a quimioterapia e mais 20 quilos com o tamoxifeno (exagerando um pouco...hihi). Mas, céus, eu já estava gorda, e precisava urgentemente emagrecer. Então voltei correndo para as atividades fisicas: pilates, dança, caminhada e procurei uma nutricionista. Pela primeira vez na vida segui uma dieta por mais de 5 meses, claro que a quimioterapia deu uma forcinha, com os enjoos e perda de apetite, mas eu estava bem determinada. Assim, comecei a quimioterapia no dia 11 de janeiro de 2016 pesando 83,5kg e terminei com exatos 70kg. U-huuuuu!!!!

Devido à dieta, a minha imunidade não caiu. Sempre comia bastante couve ou outra verdura verde escura, chupava laranja depois do almoço para reter o ferro, as vezes fazia suco de inhame para limpar o sangue. Nos primeiros meses não comia nada de carne, mas vendo que meu cabelo não voltava a crescer, acabei incluindo mais proteínas para dar força.

Minha opinião sobre a quimioterapia: um tratamento chato, que mexe com todo o organismo e com o psicológico também, mas que para mim e da maneira que eu me encontrava quando recebi o tratamento, não foi nenhum bicho de sete cabeças, no final fiquei até triste quando terminou, pelas amizades que fiz e carinho que recebia em todas as sessões.

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Reta final - O esgotamento.

Após 6 meses de rotina de tratamento, com as veias tendo sido furadas mais de vinte vezes, eis que chega o esgotamento. Esgotamento das veias, que quase não apareceram na última sessão, esgotamento físico, mental, emocional, psíquico... Não tenho tido forças para nada nos últimos dias e, pra completar, também não tenho conseguido dormir a noite, o que me deixa ainda mais cansada. Meu paladar sumiu de vez. Independente do que eu venha a comer, tudo tem gosto de borracha. Comer um pedaço de pizza, de bolo ou uma fruta não faz a menor diferença no meu paladar, tenho sempre a sensação de estar ingerindo um pedaço de chinelo. Sinto dores nas articulações, fraqueza muscular, dor de cabeça e um imenso abatimento emocional e energético.Só faltam duas sessões para tudo acabar. Vamo que vamo...

terça-feira, 31 de maio de 2016

Ex-Aluno da UFV e coisas que me perguntarei por anos.




No Oncocentro, podemos escolher se queremos fazer a quimioterapia no terceiro andar -  em box isolado, deitados na cama, com TV a cabo, controle remoto, ar condicionado e varanda privadas -  ou no primeiro andar - com todo mundo junto no salão, sentados em cadeiras inclinadas, duas TVs pra todo mundo, ligadas em canal escolhido previamente, com som no volume mínimo.

Como  a escolha dos andares fica a critério do paciente, pelo fato do meu médico atender no terceiro, fiz a maior parte das sessões lá. Quando estavam faltando somente 5 sessões para terminar o tratamento, um dia faltou vaga no terceiro andar e me perguntaram se eu gostaria de aguardar ou se teria algum problema ir para o primeiro. Como já planejava pedir para fazer uma sessão no primeiro andar para poder interagir com outros pacientes, não pensei duas vezes para responder. 

Ao chegar, comecei a perceber a diferença. Vi crianças pequenas em tratamento (no terceiro andar só havia adultos), vi pessoas em situações mais delicadas chegando carregadas ou de cadeiras de rodas (o que era raro de se ver no terceiro andar) e, claro, tive a oportunidade de puxar assunto com outros pacientes. Logo decidi que faria o resto das sessões lá.

Logo no primeiro dia, conheci a Danni, uma moça muito simpática que já havia terminado as sessões de quimioterapia e começaria a rádio em poucos dias. Ela se sentou ao meu lado, se apresentou e conversamos bastante. Trocamos facebook, whatsapp e nos falamos com frequência ainda hoje. Ela me incluiu no grupo Pérolas de Minas, um grupo de mulheres mineiras que tiveram câncer e que se encontram regularmente, promovem eventos em BH, dão entrevistas, participam de pesquisas e já foram até convidadas a entrar em campo com alguns times de futebol de MG.

Ontem, quando esperava para fazer exame de sangue conheci a Jane. Uma moça linda e simpática, de 41 anos, mas com aparência de 30. Terminou o tratamento em janeiro e veio dar depoimento e cantar para os pacientes do primeiro andar. Trocamos facebook e no final me deu uma mensagem com um docinho grampeado.

Na hora da sessão, assim que entrei no salão, vi um rapaz muito bonito sentado no canto. Era bem jovem, aparentemente com vinte e poucos anos, pele clara, olhos azuis, cabeça raspada e uma timidez nítida. Estava acompanhado de uma senhora que imaginei ser sua mãe.

Fui me sentar do outro lado do salão, onde havia uma cadeira inclinável ao meu lado, para que minha mãe pudesse deitar e descansar também, pois acordamos sempre às 3:30h em Viçosa, pegamos a van às 5h para BH, e retornamos para Viçosa no mesmo dia, às 18h, chegando na cidade por volta ds 23h, já esgotadas.

De onde me sentei, conseguia ver somente a jaqueta do rapaz, o que foi suficiente para visualizar o Brasão da UFV - imagem acima - na manga. 

- Olha mãe, o menino estuda na UFV!
- Ele te falou?
- Não, estou vendo o Brasão na manga da jaqueta dele, olha!!! 
- Ah, então vou lá conversar com ele e com a mãe! Disse, animada.

Nesse momento não fui junto porque fico muito  dopada com os antialérgicos que recebo antes do Taxol, o que me deixa com bastante dificuldade em manter um diálogo que exija mais do que meras frases soltas. Para vocês terem uma ideia, certa vez a psicóloga da clínica foi me atender e eu cochilei no meio da consulta.

Mesmo dopada, fiz um esforço para prestar atenção na conversa, quando ouvi o rapaz dizer que era formado em algo terminado em mia...não entendi se era Agronomia ou Economia, mas bastou minha mãe olhar para mim sorrindo e dizer que eu era formada em Administração, que logo deduzi que o rapaz era Economista.

Nossa, agora vai ficar feio se eu não for lá...pensei, estudamos no mesmo Departamento... Levantei lentamente e atravessei o salão arrastando o soro e a mim mesma, quase no estilo The Walking Dead. Parei em frente aos três com meus olhos dopados caídos e minha expressão de zumbi.

 - Você estuda na UFV?
O rapaz, muito simpático, não apresentou qualquer rejeição quanto à morta-viva que tentava interagir com ele.
 - Na verdade me formei há cinco anos, estava trabalhando no norte do país até que...
- Você foi ao baile de ex-alunos no ano passado? Perguntou minha mãe.
- Meus amigos foram, pra mim não deu....
 - Entendo...e o seu é onde? Geralmente não faço essa pergunta antes de conversar por pelo menos dez  minutos, mas como não conseguiria mesmo, fui direto ao assuno. O moço que já era bastante tímido, hesitou um pouco e respondeu baixinho.
- Testículo...
- Ah sim, o meu é na mama. É muito comum nesses lugares, né? Mama, útero, ovário, testículo, prostata...Você descobriu como, sentia dores? 
- Basicamente isso, dores na barriga, fui fazer exames pensando que era outra coisa e o médico viu, deu na barriga..

Entendi que o tumor começou no testículo e foi para a barriga também. Nesse momento já havia usado minha capacidade máxima de manter um diálogo em pé. Respondi a ele que o meu também havia se espalhado para a axila e costela. Perguntei como eram os ciclos da quimioterapia dele e pedi licença para me sentar de novo. Nesse momento o meu soro já havia terminado e a enfermeira veio tirar, medir pressão, oxigenação e batimentos cardíacos. Tá liberada, Simone, menos uma, só faltam três!

Durante a viagem de volta, vim me lembrando desse ex-colega de departamento, o qual não conhecia e que provavelmente nunca mais verei. Também me lembrei da Geovana, uma menina muito simpática e falante, de apenas 19 anos, com linfoma, que conheci na sala de espera de exames de sangue, e que também nunca mais encontrarei.  Por fim, me lembrei da menininha carequinha de 3 anos, que na quimioterapia passada chegou no colo da vovó, ficou brincando na cama do box - as crianças ficam em box mesmo no primeiro andar-, e quando chegou a "picadinha de formiga" chorou gritando pela mãe: "Mamãe, tá doendo, mamãe, tá doendo", repetiu umas cinco vezes seguidas, fazendo com que eu, supostamente forte e adulta, chorasse junto com ela, cá do lado de fora do salão. A picadinha de formiga nem era o pior, mas era o que ela conseguia sentir, talvez nem soubesse do resto. Tive pena da mamãe...

Se fosse seguir minha vontade, pegaria o contato de todas as pessoas que conheço no Oncocentro. Sei que por muitos anos me perguntarei como elas estarão. Será que o rapaz da UFV voltou a trabalhar no Norte? Será que os cabelos da Geovana já estão grandes novamente como os da foto que ela me mostrou? Será que a menininha de 3 anos já é adulta e cuida da mãe dela? Será que já tem filhos e quando os leva para tomar vacina diz "picadinha de formiga"? E sorri quando os ouve chorar gritando "Mamãe, tá doendo, mamãe", dizendo toda segura de si: Vai passar...

sexta-feira, 27 de maio de 2016

O que não dizer a um paciente com câncer?



Quando o assunto é câncer, algumas pessoas acabam cometendo gafes e indelicadezas sem perceber. Nessa postagem, relato algumas coisas que li, ouvi ou vivenciei, dando sugestões do que poderia ser dito no lugar.
  1. Você está com "aquela doença" -  Aquela qual, seria câncer? A não ser que você realmente tenha se esquecido do nome da doença, não diga "aquela". Juro por Deus que um raio não cairá sobre sua cabeça se você pronunciar o nome corretamente. Quando as pessoas falam "aquela doença" eu me sinto como se estivessem se referindo ao capeta (já escrevi isso em outro post). Outro dia peguei o elevador com uma senhora. Eu de turbante, óculos escuros. Ela me olhou e perguntou: Voce está usando essa coisa na cabeça porque você quer ou porque você tem algum problema? Respondi na lata: Eu tenho câncer. Se for pra tocar no assunto, fale com todas as letras. 
  2. Fulano é o câncer da sociedade - Que engraçado! Se na hora de se referir ao câncer as pessoas falam "aquela doença", na hora de se referir ao resto das coisas ruins do mundo elas usam a palavra câncer sem dó. Já andei enviando algumas mensagens inbox no facebook ao ler amigos postando tais frases: "Cunha é o câncer da sociedade", "O machismo é o câncer da sociedade","Bolsonaro....." "A corrupção...." tudo é o câncer da sociedade. Quando vejo essas referências só posso pensar que estou com uma coisa muito horrível mesmo. 
  3. Vai passar - Será que vai? Talvez não passe assim tão fácil como um resfriado. Talvez a pessoa com a qual você esteja conversando tenha metástase ou um tipo de tumor difícil de ser controlado. O câncer de mama receptor hormonal, que é o meu caso, só é considerado curado após 10 anos de tratamento (isso mesmo, DEZ anos). Ao invés de dizer que vai passar, que tal perguntar ao paciente como é o tratamento para o tumor dele? Assim você aproveita para aprender um pouco mais.
  4. Cabelo cresce, o que importa é a beleza interior - Jura? Esse é o tipo de consolo que ja me fez virar os olhinhos entediada algumas vezes. Mas se alguma mulher vir a pedir sua opinião sobre os cabelos, deixo como dica a resposta que minha amiga Maysa Eichner me deu: Simone, conheço alguns homens que têm fetiche por mulheres carecas! 
  5. Você nem parece que está com câncer - Ouvia muito isso nas primeiras semanas do tratamento. Claro que hoje, sem cabelos, sem cílios, sem sobrancelhas, com a pele amarela e 12kg mais magra ninguém se atreve a dizer o mesmo. Mas ao invés de dizer que a pessoa não está com cara de doente, você pode dizer que pelo visto a imunidade dela está boa, e perguntar como ela tem se alimentado. Enriquece a conversa e o paciente pode acabar te dando boas dicas sobre saúde e alimentação.
  6. Tenho preconceito - Sim, eu ouvi isso. Ao explicar como funciona a cirurgia de reconstrução de mama, uma pessoa teve a coragem de dizer que tem preconceito contra quem usa silicone. Minha filha, ainda que eu tivesse que trocar de cabeça, não é o caso de julgamentos, eu não pedi isso pra mim. Nesse dia eu fiquei puta.
  7. Minha vizinha teve e está ótima! - É uma tentativa fofa de ajudar. Gosto de saber que pessoas que tiveram câncer estão bem, porém é bom lembrar que existem mais de 200 tipos de câncer. Só na mama existem vários  diferentes  - carcinoma ductal in situ, carcinoma lobular in situ, carcinoma ductal invasivo, carsinoma lobular invasivo, inflamatório, triplo-negativo, doença de paget, angiosarcoma. Fora o fato de ser ou não receptor hormonal, de ser HER-2, etc. E ainda que seja exatamente o mesmo tipo de câncer, os comportamentos são diferentes.
  8. Isso é acúmulo de mágoa - Beleza, o bebê que estava do meu lado na quimioterapia passada deve ter muita mágoa guardada.
  9. Conheço um pastor que cura. Conheço um médium que cura. Conheço um padre que cura - Tenho minha crença, sei que a fé move montanhas e pode nos curar. Sou muito grata por todas as orações e vibrações positivas que tenho recebido e sinto que fazem toda a diferença. O problema é quando alguém diz para eu não fazer quimioterapia, nem cirurgia e procurar uma igreja ou um curandeiro famoso. Dica: faça o convite sem insistir.
  10. Por que não fosfoetaolamina? - Ai, essa dá mesmo preguiça de responder. Resumidamente, não vou dizer dessa água não beberei. Se um dia ficar desenganada pelos médicos ou em uma situação bem mais grave, pode ser que recorra a ela sim. Todavia, meu caso é tratável por quimioterapia, cirurgia, radio e hormonioterapia, tratamentos liberados pela Anvisa e que também já salvaram milhares de pacientes no Brasil e no mundo. Além disso, começar a tomar  a fosfo e parar causa um efeito rebote violento, quem começa a tomar não pode parar mais.
  11. Pelo menos você vai ficar magra - Devido aos corticóides e ao controle hormonal, a quimioterapia tende a engordar. Se a mulher escapa do aumento de peso durante a quimio, tem grandes chances de engordar ao longo dos 10 anos de hormonioterapia. No meu caso, procurei ajuda nutricional e consegui emagrecer durante a quimio, mas muitas amigas, mesmo cuidando da alimentação, engordaram de 5kg a 10kg.

terça-feira, 24 de maio de 2016

Mente Sã, Corpo São! De volta ao Blog!

Quem vinha acompanhando o Blog no ano passado com certeza percebeu que dei uma parada depois da última postagem, do dia 21 de dezembro de 2015, a qual foi finalizada assim: "Amanhã será o dia da cintilografia, um exame que tem 6 horas de duração e serve para verificar se há alguma metástase nos ossos. Deus queira que não!!!"

O resultado da cintilografia acusou sim a metástase óssea e o do Pet Scan também. Pra mim o susto  foi pequeno, porque antes mesmo do diagnóstico do câncer vinha sentindo muita dor na costela. Um dia cheguei de viagem, deitei na cama e fiquei umas duas horas sem conseguir me levantar, pensei que houvesse fraturado a mesma.

Achei melhor não dividir isso com vocês, pois quem está de fora geralmente sofre ou fica com dó acreditando que estou sofrendo. E enquanto isso eu estava aqui, seguindo minha vida, fazendo pilates, dançando, aproveitando pra acelerar meu inglês e tratando de eliminar os 12 quilinhos que já eliminei desde janeiro (yupiiii!). Tudo sem a menor bad psicológica!

Digo psicológica porque, diferentemente do tumor primário da mama, que nunca se manifesta, o da costela não ficou calado um só mês. De tempos em tempos mandava lembranças.  Porém, no mês de maio, mesmo a quimioterapia agindo bem no tumor da mama, a costela começou a doer tanto que falei para o médico que não sentia mais fincadas e sim facadas. A dor já não estava mais localizada, se estendia da costela até o centro do peito.

Todavia, mesmo com dores, nunca tratei meu tumor como algo do mau. Quem quer ter uma força do mau dentro de si? Eu não, credo! Vejo as pessoas usando a expressão "aquela doença" como se referissem ao próprio capeta, eu sempre preferi trata-lo como uma criança que não entende o que está fazendo. Assim fica tudo mais suave e eu ainda posso orientá-la ao invés de me revoltar.

E assim foi feito. Um dia, quando a dor estava muito intensa, resolvi conversar com a criança: Coleguinha, deixa eu te explicar uma coisa, se você continuar trabalhando com esse afinco todo quem vai morrer é você, não eu. Eu vou deixar o corpo, vou para o Céu, para uma Colônia Espiritual linda, poderei fazer umas viagens muito massas pelo Universo, "brincar de esconde-esconde numa nebulosa", ir morar em outro planeta ou de repente até voltar ao planeta Terra morando aqui ou em um outro país. Ou seja, pra mim, "O-bla-di O-bla-da life goes on bra. Lala how the life goes on." Já você, irá pra debaixo da terra com o resto do corpo, não vai ter sangue pra te alimentar, não vai ter linfa, não vai ter célula, não vai ter corpo quentinho, não vai ter nada funcionando aí. Então eu no seu lugar não trabalharia tanto... Para completar, fechei os olhos e enviei amor incondicional para os tumores da mama, da axila e da costela, em forma de luz rosa cintilante como já havia feito outras vezes.

Na semana seguinte fiz a tomografia e mostrei o resultado para o médico. Entre o dia do exame e o dia do retorno, senti as dores diminuírem bastante a ponto de ficar dias sem sentir nada. O médico leu o laudo e confirmou que o tumor da mama reduziu em 36%, e o da axila em 90%, virou a página, leu sobre a costela, em silêncio pegou a imagem, analisou e disse:

- A costela tá tranquilo!
- Você acha que o tumor some até o final da químio? Perguntei duvidosa, pois já havia feito 11 sessões de químio e só faltavam 5.
- Eu não acho. Estou te afirmando! Não tem nada aqui. Disse ele virando a imagem pra mim.

Fiquei tão passada que a ficha só foi cair hoje, no dia seguinte. É lindo o poder que temos dentro de nós e poucas vezes utilizamos! Sentimentos como o amor, a paz, a resiliência têm muito mais força que o medo, a revolta, a auto-piedade e outros sentimentos de baixa vibração.

Ah, e nada como o poder de uma boa conversa! :) Sigo sem dores...